Simulação da vídeo-instalação em espaço expositivo
Impertinentes coloca uma lupa sobre tiques e manias, pequenos gestos “estranhos” e disfuncionais que vazam do corpo enquanto cumprimos as ditas “normalidades” do dia a dia, como se fossem ruídos no conjunto de linhas aparentemente ordenadas do cotidiano, uma espécie de subversão, involuntária e incontrolável, às normas e adestramentos impostos ao corpo (e suas potências) para transformá-lo numa civilizada força de trabalho.
Em “Mil Platôs”, Deluze e Guattari propõem a noção de rosto enquanto tradução da “identidade”, do “eu sou”. E o rosto seria uma somatória de códigos, regras, leis, hábitos, costumes, aplicados para encaixar o corpo numa forma regulada pelas noções de “médias” e padrões (a norma). A construção do rosto consistiria num processo de disciplinarização que modela/ deforma/ aprisiona o corpo.
Diante desse aprisionamento, o que restaria ao corpo seria encontrar linhas de fuga. Nesse sentido, Deleuze e Guattari apontam os tiques como exemplo do que eles chamam de sintoma: um grito de protesto das forças que foram domesticadas. O sintoma seria um vazamento para salvar-se da estrutura – e, ao mesmo tempo, um constante alerta sobre a opressão contínua operada por ela.
Impertinentes propõe uma inundação desses vazamentos, os tiques e as manias, performados pelo próprio corpo da artista e apresentados de modo que nada distraia a atenção. A “deformação da norma” torna-se norma. Propõe-se ao público que se sustente a angústia diante dessa deformação, até que seja possível percebê-la como um chamado a uma subversiva e necessária resistência.
Simulações de aplicações de lambes | arte extra-muros