“Corvos de Odin” alude a uma narrativa da mitologia nórdica segundo a qual Odin, deus da sabedoria, da guerra e da morte, possuía dois corvos, chamados Huggin e Munnin - respectivamente “Pensamento” e “Memória”, na tradução do nórdico antigo. Eles sobrevoavam todo o mundo e levavam as informações a Odin. Desse modo, o deus crescia indefinidamente seu conhecimento e seu poder.
Na obra, essas figuras mitológicas são apresentadas atualizadas como duas pipas pretas - lúdicas, cativantes, banais e aparentemente inocentes. Nelas, as palavras “Pensamento" e “Memória" escritas em código binário. Através de uma rede de fios vermelhos, que sobem aos céus num movimento que espelha a ocupação do fundo dos oceanos por cabos de fibra ótica, as pipas/corvos estão umbilicalmente conectadas a Data Centers, que são repositórios para armazenamento e processamento do imenso volume de dados do nosso tempo.
Data Centers são a principal base sobre a qual as Big Techs - atuais deusas da sabedoria, da guerra e da morte - constroem e operam seus serviços. São o corpo físico da chamada “nuvem” - pela qual voam os corvos de Odin. Um corpo imenso, que devora extensas áreas de terra e quantidades inimagináveis de energia. Em 2024, há mais de 11.000 Data Centers no mundo, sendo que 28 deles, mapeados na obra, têm mais de 100.000m2 de área.
“Corvos de Odin” convida a refletir acerca da relação entre tecnologia e dominação: sobre territórios, sobre recursos, sobre memórias, sobre pensamentos, sobre desejos. E acerca da cumplicidade - em parte displicente, em parte ingênua, em parte conformada - com a qual engajamos cotidianamente nessa rede de poder.